© Jiôn Kiim and Artur Leão
Os Projetos de Fotografia Contemporânea (CPP) nesta galeria que exploram a temática de ruínas e espaços abandonados adotam diversas referências e estratégias artísticas que tomam estes espaços em ruínas, abandonados ou ausentes como objecto de trabalho documental e artístico e que se afastam assim de outras leituras mais tradicionais onde predomina apenas um trabalho de registo dos espaços e onde não existe a construção de um discurso visual sobre estas temáticas através de uma sequência de imagens.
O desafio é o de marcar a diferença explorando a singular relação que a arquitectura destes espaços consegue estabelecer com o contexto onde se localiza, com a sua história e da poética do conjunto e da ruína em si mesma, bem como na construção de uma narrativa capaz de comunicar uma direção de movimento e sequência de espaços, no sentido que Le Corbusier designou como promenade architecturale.
O interessa é o de ser capaz de trazer nova(s) perspetiva(s) sobre estes espaços e que as narrativas visuais se distingam por uma apropriação artística consciente da imagem fotográfica que é usada através de uma gramática e sintaxe próprias. Esta linguagem visual da fotografia deve ser utilizada não só como forma de registo e expressão da cultura dos espaços destas arquitrecturas em ruína ou abandonadas, mas também como estratégia artística de forma a que as narrativas visuais (CPP) tragam um novo discurso sobre o significado e importância destes espaços na cidade e no território da AMP.
Inúmeras possibilidades assistem à criação dos CPP nesta galeria como, por exemplo, podem querer resgatar e documentar para memória futura espaços desconhecidos e arquiteturas esquecidas onde há o risco de estes virem a desaparecerem. As narrativas visuais (CPP) a construir deverão constituir-se como objetos de estudo documental e artístico dinâmicos, architectural promenades capazes de integrar um arquivo de imagem e texto rico e sensível quer às questões espaciais e construtivas destas arquiteturas, quer à sua aura e genius loci.
Os CPP podem, para falar de outro exemplo, querer narrar visualmente a paisagem de ausência e esquecimento visto que as ruínas são, de certo modo, a ausência de significado. Elas contam-nos uma história paralelo, um espaço diferente e um mundo relacionado com a produtividade da cidade todos os dias. Muitas destas estruturas, agora abandonadas à sua própria materialidade, não são mais ocupadas, a não ser por algum lixo ou vegetação que tenta ganhar de volta o seu território. Esta flora ocupa alguns dos espaços e decora a paisagem, dramatizando o cenário de ruína. Nestes espaços, onde a memória do passado predomina sob a memória do presente, o cidadão urbano muitas vezes explora a estranheza destes espaços, tirando vantagem da sua desocupação e o sentido de liberdade que o abandono permite.
Os espaços vazios ocupam espaços significativos da cidade pedido a reflexão no seu papel e potencial futuro. Se as intervenções econômicas, políticas e arquitetônicas têm, em outras construções abandonadas, colonizado tais espaços, tornando-os produtivos e dando-lhes uma identidade, há também lugar para preservar lugares como espaços alternativos na cidade, áreas que têm uma memória do passado, mas simultaneamente vazio de uma identidade imponente, espaços de uma liberdade esperada. Que futuro e que papel podem estes espaços ter na cidade, como áreas únicas?
Aparentemente, não encontramos o equilíbrio entre a intervenção radical, que tende a unificar o território, tornando-o reconhecível, idêntico, e o total abandono e alienação destas estruturas em relação com os espaços da vida quotidiana.
Resta-nos a nós redescobrir estes espaços, consumidos pelo tempo, e aproveitar a sua liberdade e magia não contamina pelo poder ou razão da cidade operativa.
Assim, Ruinas e Espaços Abandonados, irá contribuir para compreender como as cidades são dinamicamente transformadas através de táticas pessoais de apropriação do espaço urbano porque muitas destas ruínas são palco de diferentes modos de agir sob a cidade.
Tal como Ignasi de Solà-Morales defende em Terrain Vague (1995), os fotógrafos mostram uma sensibilidade especial para nos fazer compreender o que no território é “imperceptível” ou “invisível” na vida quotidiana.
De facto, a fotografia contemporânea é uma das artes que melhor sucede em comunicar um visão única e analítica que simultaneamente compreende a realidade e a interpretea, imagens capazes de questionar o território, mostrando as formas como é transformado e vivido, os seus conflitos e arquiteturas e materiais heterogéneos.
O conceito de “narrativa” aqui torna-se extremamente importante em influenciar a forma como as pessoas compreendem e percepcionam o território and como este é vivenciado e transformado.
Assim, através de Ruinas e Espaços Abandonados a tensão entre que o território é e o que pode ser irá ser mais visível, mostrando a importância destes espaços como agentes de mudança, ajudando desta forma a criar uma dinâmica de interação entre os diversos espaços públicos.