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Esta narrativa visual não é outro conto épico sobre a costa portuguesa e os seus heróicos navegadores. Esses dias desapareceram há muito tempo atrás assim como esses navegadores, que estão mortos ou a morrer. A globalização e a União Europeia vieram, viram, e conquistaram tudo. Barcos de pesca foram desmantelados e estritas quotas pesqueiras foram impostas, enquanto que ao mesmo tempo começou a ser implementada e disseminada, tanto à escala nacional como internacional, uma massiva campanha multiplataforma a promover o turismo em Portugal. E ainda que o turismo seja actualmente um sector em expansão neste país, actividades tais como a pesca ou a apanha do sargaço estão em risco de desaparecimento. Estas novas dinâmicas transfiguraram o tecido da paisagem social da costa portuguesa, alterando a morfologia deste território não apenas no sentido físico, mas também transformaram de forma gradual uma outrora grandiosa nação de navegadores numa frota de empregados de mesa e cuidadores indiscriminados dispostos a atender às necessidades dos turistas (tanto domésticos como estrangeiros). 


A verdade é que neste admirável e inócuo mundo novo, já não há lugar para heróis e perigo. Tudo o que resta são os antigos contos sobre a costa portuguesa, histórias que ainda nos fazem sonhar acordados sobre um lugar que outrora foi o ponto de partida para a aventura. De facto, esta é uma conjuntura difícil para viver do mar. Mas ainda há algumas pessoas que são corajosas o suficiente para resistir às vagas de mudança e ousam lutar pelo seu direito de viver mais outro dia neste fabulado lugar. 


Este ensaio visual é dedicado aos últimos habitantes da moribunda e outrora grandiosa costa portuguesa.